Há dias, um dos nossos canais televisivos noticiava a perniciosa influência do "aquecimento global" no clima - e no turismo - da Lapónia. Deve ser por isso que não temos notado o célebre fenómeno: à semelhança do Pai Natal, outra celebridade de existência polémica, o maroto fica-se pelo Norte da Escandinávia. No resto da Terra, e para recorrer a um verbo que tento aplicar há décadas, tirita-se de frio.
Tirita-se, por exemplo, na Califórnia e em Las Vegas, coberta de neve. Ou no Canadá, onde se passou o primeiro natal inteiramente branco desde 1971. Ou na Índia, com temperaturas três ou quatro graus abaixo do normal. Ou em Marrocos. Ou, se acaso não repararam, por aqui, com o terceiro Novembro mais frio desde 1931 e um Dezembro que não andará longe do recorde. Ainda mais interessante, os seríssimos jornalistas da CNN já acompanham a expressão "aquecimento global" com risos e aquele gesto das mãos que significa "aspas". Qualquer dia, teremos os media em peso aflitos com o "arrefecimento global", cuja responsabilidade, de uma arrevesada e imaginativa forma, tocará igualmente ao homem.
Será, naturalmente, igual exagero. Não sou perito na matéria. Mas se percebo os poucos peritos que não perderam os últimos anos em sermões transtornados acerca do aumento da temperatura terrestre, das emissões de CO e do Apocalipse, o frio é normal. O calor é normal. As variações são normais. Os extremos "sem precedentes" são normais. Se alguma coisa parece definir o clima é a mudança constante, quase tão constante quanto os pânicos da espécie, no caso do "aquecimento global" varrido por um gelo danado e, sobretudo, por uma crise financeira que os profetas do costume demonstram ser irreversível e fatal. Pelo menos até à fatalidade seguinte.
"Al Gore, Herói da Lapónia", por Alberto Gonçalves, no Diário de Notícias.
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