18.12.12
Há um tema que lamentavelmente não tenho partilhado vezes suficientes com a estimada audiência
O Belenenses é líder da segunda liga. Mais, é líder com uma confortável margem de 10 pontos em relação ao mais directo concorrente na luta pela subida. Acrescente-se que mantém-se em prova na Taça de Portugal onde prepara-se para disputar os quartos de final.
Contudo o meu entusiasmo é moderado. Em primeiro, porque recuso-me a festejar subidas de divisão. Pertenço a uma geração que viu o Belenenses, por exemplo, derrotar em casa o Barcelona e conquistar uma Taça de Portugal numa época onde nessa prova eliminou Porto, Sporting e Benfica. Por isso os triunfos nesta divisão são festejados e celebrados na bancada mas sem ponta de euforia. Que este não é o nosso lugar e as vitórias na Tapadinha não são o nosso campeonato.
Depois porque esta temporada ficará para sempre marcada pela decisão dos sócios em Assembleia Geral que aceitaram a venda da maioria do capital da SAD a um investidor externo. Assumidamente contra estas tendências do futebol moderno, onde os clubes vendem-se e compram-se como se fossem peças de um jogo de Monopoly, deixei o meu voto contra, infelizmente pouco acompanhado frente a uma maioria que aplaudia o cavalheiro Rui Pedro Soares como se de um Messias se tratasse. Em causa está uma forma de ver o meu clube e o futebol onde os emblemas e o respeito pelo seu património histórico têm importância. E esta moda dos senhores que gostam de brincar ao Football Manager da vida real ignora aqueles que há décadas acompanham o seu clube, vibram com as vitórias, sofrem com as derrotas.
Em causa não estão os contornos do negócio, tornado público apenas na véspera da dita Assembleia, numa manobra pouco transparente, mas uma questão de identidade e princípio. Que os tempos dizem para os clubes serem olhados como empresas mas se eu quisesse ver empresas a jogar à bola ia para as bancadas do Inatel ver o BESxCGD. Em última análise preferia ver o Belenenses nas Distritais, o cenário que foi acenado na Assembleia qual bicho-papão, do que ver o emblema que sigo a passar de mão em mão com motivações pouco claras e que podem exceder o campo meramente desportivo. Porque "matar" um clube nunca é tão fácil como parece. E o Farense, por exemplo, que já tinha sido enterrado com caixão fechado e missa rezada, está aí, pé ante pé, com uma massa adepta fiel, a subir degraus e das Distritais num abrir e fechar de olhos já chegou à II B.
Não se confunda esta forma de ver o futebol com possíveis críticas a uma época por sinal muito bem construída, suportada em jogadores na sua maioria nacionais e "descobertos" em divisões secundárias. Sem dúvida que o sucesso é evidente e que os "maestros" desta época devem ser aplaudidos. E que bom é ver de regresso uma franja de adeptos que andava adormecida e que perante as vitórias voltou a acordar. Mas que nunca se confunda isso com o objectivo assumido por Rui Pedro Soares de fazer deste emblema um "clube familiar", piscando o olho à estafada argumentação do "clube simpático" que muita gente gostaria de ver como o "segundo clube" de benfiquistas, portistas e sportinguistas. São estes os nossos rivais e nas bancadas existirá sempre quem faça questão de nunca o esquecer. Sabem bem estes triunfos, é bom voltar a abraçar os companheiros de bancada. E é bom ver cada vez mais mãos disponíveis para levantar aquela faixa: Rumo ao Nosso Lugar! Honra aos verdadeiros, pois aconteça o que acontecer, sei que naquelas bancadas existirá sempre alguém a resistir.
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