7.11.09

Citando

"Ter sentido de humor é cada um rir-se de si próprio, sem a ajuda ou presença de mais ninguém. Não é um exercicio que se faz para divertir os outros - não dá trabalho. É um reflexo incontrolável perante os acidentes da vida que tem uma recompensa muito maior do que o divertimento dos outros. A recompensa do humor é acompanhar (e reduzir um bocadinho) o nosso sofrimento com uma visão externa do ridículo ou irónico do que nos aconteceu. O azar tem graça. A injustiça também. Quanto maiores forem, mais graça têm. Dizer "olha que sorte..." quando nos acontece uma coisa má e saber medir o azar e calcular a improbabilidade é ter sentido de humor. (...) Ter sentido de humor é uma pessoa sorrir e rir-se sozinha, com uma secreta admiração pelo Deus da pouca sorte e da desgraça. Por exemplo, "Dá Deus nozes a quem não tem dentes" não deveria ser um lamento. É engraçado. Esta injustiça perversa tem graça por ter uma frívola justiça no meio. Quem tem dentes, tem sorte de ter dentes. Quem tem o azar de não ter dentes, tem nozes. Mais vale ser-se um desdentado com nozes do que um desdentado sem nozes. As nozes não só se podem vender e trocar mas, sobretudo, servem para exasperar a malta que tem a sorte de ter dentes. É uma vingançazinha e isso tem sempre graça."

Miguel Esteves Cardoso, hoje, no suplemento "Nós Humoristas" do "i".

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