20.12.17

Antes do tempo

Acontece muito. Pessoas alertarem para a gravidade de algo antes do tempo. Não que não esteja a acontecer naquele momento. Mas por não ser ainda "trend" ou mediaticamente impulsionador da indignação das massas. Aconteceu com Marinho Neves, cujo falecimento tomei conhecimento ontem.

Na era do futebol dos e-mails, das escutas no You Tube, dos debates nos canais de "informação", dos directores de comunicação Superstars passou ao lado quem em 1996 já tinha escrito sobre tudo isto. Mudavam os protagonistas e na ausência de novas tecnologias os métodos eram mais rudimentares. Mas toda esta "actualidade" estava lá revelando uma prática sistemática na qual diferem apenas os protagonistas. Diz a gíria popular que o Marinho Neves teve razão "antes do tempo". Ou então teve na altura certa. Mas a "esfera mediática" encaminhou em outro sentido. Não é por acaso que das duas vezes que comprei "Golpe de Estádio" (emprestei a primeira edição e aprendi a valiosa lição sobre o risco de emprestar livros) o tenha feito a preço de saldo na banca dos pequenos editores de feiras do livro.

A primeira edição em 1996 podia concorrer no título de pior capa de sempre. Um José Rola pixelizado a mostrar um cartão vermelho a um jogador. Mais tarde surgiu nova edição aproveitando o "10 anos depois toda a verdade provada no Apito Dourado". Uma capa negra com um apito. O destino foi o mesmo. Salvo erro 3 euros numa banca em saldo. Pelo meio histórias de um Marinho Neves que após o livro teve dificuldade em arranjar trabalho e que chegou a ter esperas à porta de casa. A sua morte devia ter sido mais que uma nota de rodapé. Como o mereciam ter sido o Tony Balboa, o João Seminário ou a empresa OlimpicSport que deram corpo a um livro divertido e que é documental de um período negro do futebol português. Antes do tempo.